Page 16 - Parábolas de Jesus à Luz da Doutrina Espírita | Fergus Editora
P. 16
enxergar. Ver é dar sentido e significado. Enxerga quem tem a retina
íntegra, que capta os impulsos luminosos e que os transformam
em potenciais de ação que percorrem o nervo óptico até o córtex
occipital, onde são interpretados. Porém só vê quem dá sentido
particular e coletivo profundo ao que é enxergado, conferindo-lhe
valor próprio e movimento interior.
Lembremo-nos da passagem do Cego de Jericó (Marcos 10:46-52),
na qual Jesus pára em meio à multidão para ouvir o clamor genuíno
de um coração que havia esgotado suas forças no sofrimento que o
paralisava à margem do caminho, em mendicância do corpo e da
alma, e que estava pronto para uma nova etapa de vida. Cristo o
chama e o faz caminhar no meio do povo, enfrentando não só a
turba ignorante que o criticava e mandava calar-se, mas, sobretudo,
as suas próprias multidões internas do desvalor, da carência afetiva,
da solidão e do desamor, ativando as forças da esperança e da
autocompaixão.
Bartimeu – este era seu nome – caminha até Jesus e ao parar
diante do Mestre este o indaga, como célebre pedagogo da alma
humana: “Que queres que eu te faça?” E o homem, profundamente
confrontado consigo mesmo, vê naquela pergunta o momento
decisório do espírito. É que Jesus lhe dizia: “eu sei o que tenho a
ofertar e o que você precisa, mas dentre o que tenho a lhe dar, o
que está pronto para receber? Qual sua real necessidade interna?” E
ele, então, mergulhado no autoconhecimento e na responsabilização
pessoal, lhe contesta: “Senhor, que eu veja”. Pediu ao cristo visão.
Não apenas enxergar com o corpo mas ter a visão profunda do ser
Parábolas de Jesus | 14 | Autores Diversos