Page 23 - Câncer Aspectos Históricos, Científicos e Espiritualistas | Editora Frei Luiz
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era menos comum porque as pessoas acabavam morrendo cedo, por ou-

                 tros motivos”.
                   Outra consideração, segundo ele, é a revolução na tecnologia médi-
                 ca: “Hoje, nós diagnosticamos muitos cânceres – de mama e de próstata
                 – que, em épocas passadas, teriam passado despercebidos e sido levados

                 ao túmulo quando a pessoa morresse de outras causas, não relacionadas”.
                   Mesmo com tudo isso sendo contabilizado, existe um problema fun-
                 damental em estimar a ocorrência de câncer na Antiguidade. Duzentos
                 casos podem não parecer muito. Mas a escassez de evidências não é

                 uma prova de “escassez”. Tumores podem permanecer ocultos dentro
                 dos ossos, e, aqueles que podem comprometer o esqueleto, podem fazer
                 com que o osso se desintegre e desapareça. Mesmo com todos os esfor-
                 ços dos arqueólogos, somente uma fração da pilha de ossos humanos foi

                 coletada, sendo impossível saber o que permanece escondido por baixo.
                 Nessa minúscula amostra, nem todos os restos mortais estão completos.
                 Por um bom tempo, os arqueólogos só coletaram crânios e, para a maio-
                 ria, não há como saber o que o resto dos esqueletos poderia dizer sobre

                 a saúde daquelas pessoas.
                   Teoricamente, as múmias antigas seriam uma exceção. Porém, tam-
                 bém aqui as descobertas foram poucas. Apenas em raras ocasiões os pa-
                 tologistas conseguem colocar as mãos numa múmia comparativamente

                 recente, como a de Ferrante I de Aragon, rei de Nápoles, morto em 1494.
                 Quando seu corpo foi autopsiado, cinco séculos depois, descobriram
                 que um adenocarcinoma colorretal, que havia se espalhado pelos mús-
                 culos da bacia, ocasionara sua morte. O diagnóstico foi adiado por várias

                 centenas de anos e só se tornou possível no  m do século XX, quando
                 a análise do DNA revelou mutações no gene k-ras, relacionado, quan-
                 do mutado, com o câncer do cólon (intestino grosso) e do reto, dentro
                 de uma massa tumoral compatível com o tumor encontrado. Este caso



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